A passagem para o ano 2000 pode suscitar sérios problemas no funcionamento de
muitos sistemas informáticos. Na verdade, a grande maioria, senão a totalidade,
das unidades empresariais dependem hoje em dia dos meios informáticos para gerir
fluxos importantes de informação. A possibilidade de esses meios ou aplicações
informáticas deixarem de funcionar adequadamente torna difícil ou mesmo
impossível o normal funcionamento das empresas, afectando todas as suas áreas de
negócio e a generalidade dos procedimentos internos.
A não compatibilidade de algumas aplicações informáticas quanto à entrada no
novo milénio surge-nos, neste sentido, como um problema que não é meramente
técnico e que pode ter implicações na própria sobrevivência das unidades
empresariais, caso não seja adequadamente analisado e solucionado por cada uma
delas.
O problema informático da passagem do "Ano 2000" reside, como é conhecido, no
facto de na década de 60 as primeiras aplicações informáticas desenvolvidas
representarem, nos campos relativos à data, o ano com dois dígitos (YYMMDD), por
motivos de economia de memória e de espaço de armazenamento de informação,
tornando-os assim não compatíveis com a passagem do milénio. Nestas aplicações,
o ano 2000 seria identificado como 00 levando a aplicação informática a
armazenar esse dado como sendo relativo ao ano de 1900.
Embora muitas das actuais aplicações informáticas sejam já compatíveis com o
"Ano 2000", a grande maioria delas ainda funciona ou interage com aplicações
informáticas não compatíveis. Desta forma, o facto de se assumir que uma
aplicação informática é compatível não deve invalidar a análise detalhada das
repercussões sobre a mesma da passagem do milénio e a prossecução de testes
rigorosos quanto à sua operacionalidade futura.
Esta é, aliás, a mensagem que se pretende transmitir a todas as entidades
emitentes, salientando a importância da análise e resolução atempada deste
problema.
Uma correcta análise e resolução deste problema implica que cada empresa
elabore o seu próprio plano de acção, na medida em que o impacto será diferente
para cada empresa consoante a sua dimensão, as suas características internas e
as relações estabelecidas, clientes e os mais diversos prestadores de
serviços.
No âmbito do respectivo plano de acção, cada empresa deverá trabalhar na
definição de um objectivo estratégico, ao mais alto nível hierárquico, e na
comunicação do mesmo a toda a organização, por forma a que exista o
reconhecimento por parte desta de que o problema do "Ano 2000" pode ser uma
questão de sobrevivência da própria empresa. Além disso é aconselhável que se
desenvolvam planos detalhados de inventariação do software, hardware, redes
informáticas e equipamentos com chips embutidos, incluindo todas as actividades
que influenciem o normal funcionamento da empresa, internas ou externas à mesma
e que os sistemas, aplicações e equipamentos não compatíveis sejam renovados,
sendo necessários longos períodos de testes em coordenação com terceiros, no
sentido de serem testados os diversos fluxos de dados. Por outro lado, há que
desenvolver planos de emergência que façam face a problemas técnicos que atrasem
significativamente todo o processo e por último, importa sublinhar que a
colocação em funcionamento dos sistemas compatíveis testados requererá um
controlo constante e um planeamento cuidado por forma a que todas as aplicações
comecem a funcionar coordenadamente.
O desenvolvimento de planos de acção, por seu turno, tem revelado um conjunto
de questões que merecem atenção especial. Aproveita-se a oportunidade para
referir algumas das mais significativas:
A necessidade de certificação da compatibilidade dos equipamentos e
aplicações por parte do vendedor ou do prestador do serviço ser sempre
comprovada por testes a efectuar pela própria empresa.
Importância de planos de emergência que, em caso de falhas por parte do
vendedor ou do prestador do serviço, permitam a sua substituição ou a
finalização da tarefa pela própria empresa.
Coordenação de esforços com clientes ou outro tipo de entidades em estreita
ligação com a empresa com vista à ultrapassagem conjunta do problema, já que os
efeitos negativos de contágio que podem advir do insucesso de qualquer uma
destas entidades podem ser significativos para a própria empresa.
Possibilidade de a inventariação não abarcar aplicações próprias de pequenos
departamentos ou de actividades descentralizadas e/ou localizadas no
estrangeiro.
Subestimação dos custos associados aos longos períodos de testes, sendo que
muitos destes testes serão, em ultima análise, efectuados pelos próprios
colaboradores da empresa que trabalham diariamente com esses equipamentos e/ou
aplicações. Por outro lado, a aproximação da data limite (a passagem do milénio)
está já a provocar a escassez de técnicos qualificados neste tipo de funções,
tanto nas próprias empresas como nas prestadoras destes serviços, o que poderá
ter repercussões em termos salariais e na própria qualidade técnica do serviço
prestado. Relembra-se que a introdução do Euro e as exigências quanto ao
contínuo desenvolvimento informático das empresas concorrem com o problema do
"Ano 2000" na procura de técnicos qualificados.
Necessidade de desenvolver procedimentos internos de auditoria, paralelos aos
tradicionais, que identifiquem falhas nas fases operacionais deste processo.
Questões que têm sido colocadas quanto à contabilização dos custos imputáveis
a este processo e a possibilidade de o risco associado às empresas que não foram
bem sucedidas na renovação dos equipamentos, sistema se aplicações ser
considerado nos respectivos documentos de prestação de contas
auditados.
O problema tem merecido a preocupação das associações internacionais de
autoridade de supervisão, designadamente da IOSCO – International Organization
of Securities Commissions e do "Basle Committe on Banking Supervision" (cujos
comunicados podem ser consultados nos endereços www.iosco.org/iosco.html e www.bis.org ).
Nesta circunstância, considera esta Comissão ser seu dever, no âmbito dos
seus poderes de supervisão e promoção do mercado, recordar às entidades
emitentes que a impossibilidade de adiar este problema impõe que o processo de
compatibilização dos meios informáticos para o "Ano 2000" seja efectuado dentro
de prazos razoáveis que permitam, como já foi referido, uma correcta análise e
resolução do problema, tendo consciência de que os custos de insucesso neste
processo poderão ser incomportáveis.